Pessoas LGBT com deficiência revelam suas vivências e desafios para um mundo mais inclusivo

Aceitação, respeito, acolhimento, luta e reconhecimento. Essas são palavras comuns no discurso de pessoas LGBTQIA+ com deficiência. Hoje, elas são invisíveis para boa parte da sociedade – até mesmo em alguns grupos que militam por essa causa.

No mês em que se celebra o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia (17 de maio), fui conversar com quem realmente vive essa realidade para entender o que podemos fazer enquanto sociedade  para dar mais representatividade e visibilidade a esse grupo. São eles:

Cássia Lohanna é estudante de Investigação Criminal Perícia Forense, é uma pessoa com nanismo e mulher transexual.

Eduardo Victor (Dudu)  é um criador de conteúdo gay e com paralisia cerebral.

Quais são, hoje, os principais desafios que você enfrenta sendo uma pessoa LGBT com deficiência?

Cassia – Ser aceita como qualquer outra pessoa, ser vista como uma mulher e não como objeto de desejos sexuais, fetiches, e ser respeitada pela orientação sexual e identidade de gênero que escolhi viver e seguir na vida.

Dudu – Eu sempre digo que ter uma deficiência é viver eternamente saindo do armário. Quando comecei a entender minha sexualidade, acreditei que a percepção das pessoas sobre mim mudariam, por ter entendido que eu me relacionava com homens. Cresci me agarrando na ideia de que a minha deficiência “não era importante” e que eu “não tinha tanta deficiência assim”, então, entender isso foi um baque. Na verdade, as pessoas pensam que nós, PCDs não temos sexualidade, ou então, nos objetificam. Entender essas nuances é entender que sempre estaremos em um não-lugar, mas lutando para mudar essa percepção.

Temos boas iniciativas e avanços quando o assunto é quebrar preconceitos contra pessoas LGBT com deficiência?

Cassia – Infelizmente, ainda não. Hoje a luta contra o preconceito com pessoas LGBTQIA+ com deficiências está surgindo, mas comparando com a luta da mesma classe com pessoas sem deficiência, ainda tem muita coisa a se fazer. Nas mídias, redes sociais, histórias de vida, isso repercute mais com pessoas sem deficiência. Até mesmo dentro do próprio grupo LGBTQIA+, somos olhado por muitos de uma maneira diferente. Não posso deixar de falar que, existe sim, pessoas que estão surgindo e lutando para sermos reconhecidos(as) pelo que somos como ser humanos, e não por nossa deficiência.

Dudu – Acho essa pergunta um tanto quanto otimista. Nem as medidas para pessoas LGBTs em geral são efetivas, quem dirá para LGBTs com deficiência. Vivemos num país inacessível, não entendem nossos corpos como válidos. Às vezes, me sinto repetitivo tanto na vida quanto no meu trabalho, porque pra mim, é óbvio que merecemos viver. Mas a sociedade não entende isso. Ainda falta muito. Claro que avançamos, hoje vejo nossas vozes aparecendo um pouco mais no mundo, mas nada perto do que precisamos.

Qual a mensagem que você deixaria para quem gostaria de entender mais sobre sua realidade e de outras pessoas LGBT com deficiência?

Cassia – Busque conhecer, converse, dê oportunidade, não julgue, e acolha. Fazendo isso, o entendimento ficará mais claro, e a realidade de muitas pessoas com deficiência LGBTQIA+ mudará de uma certa forma. E para a pessoa com deficiência que tem assumida uma orientação sexual, ou identidade de gênero, seja você mesma sempre, independente de que vai ser aceita ou não. A primeira aceitação precisa ser sua.

Dudu – É o que sempre digo nas minhas redes sociais quanto nos lugares que eu vou. Está tudo bem ser quem somos. Precisamos normalizar nossas vivências e nossas vidas. E digo isso tanto para quem quer entender mais nossa existência, quanto para quem tem uma deficiência e está entendendo sua sexualidade ou seu gênero. É possível viver! Estamos aqui, resistindo, e isso é muito duro, mas sempre lembrando que a maior esperança que temos é podermos viver e existir sem medo. Ter uma deficiência é normal, somos no mínimo 1/4 da população e ser LGBT também é. Eu tenho orgulho de ser como sou, embora não seja o suficiente para garantir meus direitos. É duro, mas nada paga o preço de poder ser quem eu sou!

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