Dia 2 de abril: Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Foto: Arquivo Pessoal da autora

O dia 2 de abril é uma data muito importante para a comunidade autista. É um dia não só de conscientização como de desmistificação. Infelizmente, ainda é um dia em que precisamos afirmar o óbvio. Quando você diz que:

“A cor do autismo é azul, porque a cada 4 meninos autista apenas 1 é menina”
Você está aumentando os estigmas sobre a condição. De maneira geral, isso prejudica ainda mais que mulheres sejam diagnosticadas precocemente.

“Autista é anjo azul”
Além de ser uma palavra que desumaniza, reforça estereótipos de que nós não somos pessoas reais, afinal, ao contrário disso, nós pessoas autistas fazemos tudo que todos fazem dentro de nossas vivências. Comemos, bebemos, beijamos, nos relacionamos, transamos e constituímos família

“Autistas não têm sentimentos”
Por ser um grande mito, você não só fortalece o que as grandes mídias inventam, como também faz com que isso nos coloque num lugar desumano. Querer controlar a forma que o outro sente porque ele não sente ou não demonstra como você, é achar que somos incapazes de ter sentimentos, e todo mundo têm sentimentos.

“Portador de autismo/têm autismo/possui autismo”
Uma pessoa nasce autista. O autismo é intrínseco a nós. A gente não vai ali no mercado e compra autismo para se portar, ou, toma uma vacina para adquiri-lo, nem acorda cedo e escolhe no guarda-roupas se vai carregar um tipo de deficiência para possui-la. Estes termos já caíram em desuso.

“Tem certeza de que você é autista?”
Além de pôr em xeque anos de estudo e especialização do profissional que avaliou o autista, você ainda descredibiliza e invalida a vida dessa pessoa. Não faça isso!

Nós somos pessoas, sobretudo, com desejos, vontades, gostos, com nossas vozes e identidades. Autismo não é doença. É um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a forma como a pessoa interage com o mundo.

Autismo é neurodiversidade.

Autismo é deficiência.

Autismo é um espectro.

Existem pessoas com diferentes habilidades e diferentes níveis de comprometimento.

Todas, sem exceção, têm valor. Todas têm direitos. Todas precisam de inclusão e acessibilidade. Todas são dignas de amor e aceitação. Todas têm potencial.

Crianças têm direito ao diagnóstico precoce e acompanhamentos que garantam que possam desenvolver todo o seu potencial. Também têm direito à educação.  Adolescentes autistas têm direito ao suporte, à educação, à vida em sociedade.

Adultos autistas têm direito ao mercado de trabalho, à cultura inclusiva, à assistência social, à cidade e a garantia dos nossos direitos existenciais, incluindo os direitos reprodutivos, os direitos sexuais e os direitos afetivos. Nossos diferentes modelos de relacionamento não devem ser discriminados, e devemos ter acesso a um planejamento familiar integral e equitativo.

O autismo, assim como as outras deficiências psicossociais e intelectuais, não é um defeito neurológico. As deficiências são expressões da diversidade humana. E nós, pessoas autistas, somos atravessadas por outros marcadores sociais, como raça, gênero, classe social e sexualidade. Tudo isso é importante.

Vivemos em comunidades tradicionais, quilombolas e ciganas, em áreas rurais, vilas e pequenas cidades. Somos pessoas migrantes, refugiadas, em situação de rua, pobres, encarceradas, institucionalizadas, e somos também líderes comunitários e gente da classe trabalhadora. Somos pretas, faveladas, periféricas, não-brancas, LGBTQIA+, indígenas, povos de terreiro e pessoas com outras deficiências. Usamos os mesmos serviços que os demais e estamos em todos os lugares.

Nós, autistas, somos pessoas com deficiência e devemos exercer todos os nossos direitos.

Um dos princípios gerais da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, que, no Brasil, tem status constitucional, é o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiências como parte da diversidade humana e da humanidade. Esse respeito inclui considerar que diferentes pessoas com deficiências têm diferentes demandas. Essas demandas não devem ser usadas para medir a competência para existirmos.

Somos todos igualmente dotados da mesma dignidade, independentemente de precisarmos de maiores apoios ou adaptações. Isso significa que uma maior demanda de apoios não desqualifica a autonomia de uma pessoa, nem seu exercício de direitos.

Nós somos pessoas, sobretudo, com desejos, vontades, gostos, com nossas vozes e identidades. E nossas vidas importam!

Por Jéssica Borges, educadora inclusiva e popular, profissional da inclusão e diversidade, ativista pelos direitos humanos, mulher autista e mãe do Ravi que também é autista.

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