Para trabalhar com inclusão, saiba 9 curiosidades sobre a CIF

Imagem de uma cadeira de rodas vazia em frente à uma mesa de escritório com coisas de trabalho em com: folhas, lápis, canetas, extensão etc, no meio da imagem uma frase "9 curiosidades sobre a CIF"

O primeiro contato que nós da Santa Causa tivemos com a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), ferramenta criada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi em meados de 2005 na primeira secretaria do Brasil criada para tratar dos direitos das pessoas com deficiência.


A CIF da OMS é o instrumento base para a criação das avaliações biopsicossociais. A avaliação biopsicossocial leva em consideração o estado de saúde, condições biológicas, como também aspectos sociais e psicológicos. É uma lógica que compreende que há outras questões que influenciam as condições de saúde da população, ou seja, que duas pessoas com a mesma doença ou a mesma deficiência podem apresentar condições de saúde muito diferentes.


Nos últimos meses temos nos empenhado em um aprofundamento maior sobre a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, principalmente motivados por um projeto da Santa Causa para uso da CIF na avaliação de candidatos com deficiência e posições de trabalho em empresas.


Por causa da Lei Brasileira de Inclusão, que traz esse conceito de avaliação biopsicossocial, muitos profissionais que não são da área de saúde, têm buscado mais informações sobre a CIF. E, embora, pareça um instrumento complexo, ele não é.


Porém, para entender a CIF é preciso, antes de qualquer coisa, entender o conceito por trás do instrumento. Essa compreensão é que vai possibilitar o seu uso. Por isso, queremos compartilhar com você, que atua ou não com inclusão, mas tem interesse no tema 9 pontos que consideramos essenciais sobre a CIF:


1. A CIF tem aplicação universal  

Ou seja, se aplica a todas as pessoas. Não classifica somente pessoas com deficiência ela aborda a funcionalidade e a incapacidade de acordo com as condições de saúde, indicando o que um indivíduo pode ou não pode fazer no cotidiano



2. Deficiência não é a mesma coisa que doença

A Deficiência não indica a presença de doença e muito menos que a pessoa seja considerada doente. Por exemplo: A perda de uma perna é uma deficiência de uma estrutura do corpo, mas não é uma doença.



3. A CIF permite identificar intervenções no ambiente para melhorar o desempenho

E isso é muito bacana porque permite identificar aspectos positivos e também negativos que interferem na funcionalidade ou na capacidade. Essa identificação permite adotar facilitadores ou a eliminação de barreiras, tornando o ambiente mais acessível.



4. Dispositivos de auxílio (ou tecnologias assistivas) não eliminam uma deficiência, mas podem remover a incapacidade e/ou aumentar a funcionalidade.

Uma citação muito emblemática que gostamos muito de usar em nossas palestras e apresentações é atribuída à Mary Pat Radabaugh, ex-funcionária da IBM, que dizia o seguinte: “Para muitas pessoas, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência torna as coisas possíveis.”



5. Um problema de desempenho pode ser resultado de um ambiente social

É como sempre dizemos: o que limita a participação social de uma pessoa com deficiência não é a sua deficiência, mas as barreiras que os ambientes sociais possuem. Uma pessoa pode ter alguma doença sem sintoma aparente que limite sua capacidade, mas por conta de estigmas da sociedade e preconceito sofrer restrições de participação.



6. Incapacidade = condição de saúde x fatores externos

A incapacidade é o resultado de uma condição de saúde e fatores pessoais em sua interação com os fatores externos, no ambiente onde a pessoa vive. Da mesma maneira, a funcionalidade de um indivíduo pode ser medida pela interação entre a sua condição de saúde e os fatores contextuais (fatores ambientais e pessoais). Considerando essas variáveis, onde você acha que as intervenções são possíveis? Certamente no ambiente social.



7. Ambientes diferentes têm impactos distintos

Naturalmente enquanto um ambiente com barreiras restringe o desempenho, um outro com facilitadores pode melhorar o desempenho. Que isso sirva de estímulo para que os ambientes se tornem mais acessíveis.



8. A abordagem da CIF é biopsicossocial

A CIF está baseada na integração dos chamados modelos “médico” e “social” tendo como resultado uma abordagem “biopsicossocial”, ou seja, sob uma perspectiva biológica, individual e social. O modelo médico e o social são modelos opostos, mas na ótica da CIF são complementares, por isso a abordagem deve ser biopsicossocial.



9. A CIF é o retrato de um momento dentro de um contexto

A CIF classifica a funcionalidade e incapacidade em um dado momento como se fosse uma fotografia. Se repetida em momentos distintos é possível avaliar avanços ou retrocessos de funcionalidade de uma pessoa.


Como podem ver é um assunto que tem um campo enorme a ser estudado e um potencial incrível de uso em diversas situações para contribuir para inclusão das pessoas com deficiência. E, através do compartilhamento e troca de experiências, queremos ampliar o conhecimento sobre o tema.

Quem tiver interesse em saber mais, há um livro sobre a metodologia “CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde”, da Editora da Universidade de São Paulo. Boa leitura e até a próxima!


Aline Morais e Rafael Públio

Sócios diretores da Santa Causa e pesquisadores responsáveis pelo projeto Job4All-CIF (em fase de desenvolvimento com apoio da FAPESP)

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